Dia: 14 de junho de 2023

  • No Acre, projeto valoriza atuação de mulheres na produção da borracha que não se transforma em calçados sustentáveis

    No Acre, projeto valoriza atuação de mulheres na produção da borracha que não se transforma em calçados sustentáveis

    Publicado em 11 de dezembro de 2022

    Viabilizar a visibilidade ao papel da mulher dentro da unidade familiar e na cadeia da borracha para fortalecer o pilar socioambiental para manutenção da conservação da floresta em pé. Esses são os principais objetivos do projeto denominado “Mulheres da Borracha”, idealizado e executado pelas organizações: VEJA/VERT, SOS Amazônia e o Instituto de Desenvolvimento Social (IDS).

    Em novembro passado, foram realizadas três oficinas que abordaram a importância da participação da mulher na cadeia produtiva da borracha, desde o corte até a comercialização. As atividades também têm o envolvimento da Cooperativa Agroextrativista de Assis Brasil, Epitaciolândia e Brasiléia (Coopaeb), da Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre (Cooperacre) e do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Brasiléia (STRB).

    As oficinas foram realizadas nos seringais Nova Olinda, Amapá e Humaitá, dentro da Resex Chico Mendes, envolvendo mais de 70 mulheres, que reunidas discutiram e compartilharam experiências sobre a produção da borracha e as práticas agroextrativistas. Em todo o Acre, o projeto pretende realizar 41 oficinas com a participação de mais de 1.000 mulheres em todas as regionais do estado.

    Os encontros trazem à luz um protagonismo que poucas vezes é mostrado nas produções jornalísticas sobre o cotidiano do extrativismo na Amazônia, mas que, indiscutivelmente, faz parte da realidade de muitas famílias que resistem em viver do que a floresta oferece sem que precise ser derrubada: a atuação da mulher em atividades como a produção da borracha.

    Desde sempre, as mulheres desenvolveram um papel preponderante na vida familiar amazônica, mas quando se trata de uma produtora rural, o trabalho e as atribuições sempre foram mais amplos do que se supõe, pois além de cuidar de casa e da família, a mulher também se responsabiliza por diversas atividades “extra lar” em suas propriedades.

    As mulheres extrativistas vivem muitas jornadas durante seus dias. Elas são as primeiras a acordar e as últimas a dormir. Fazem todas as atividades domésticas, cuidam das crianças, das pessoas mais velhas e das pessoas doentes. Cuidam das criações, da horta, do quintal produtivo, do roçado e ainda vão para a floresta fazer as práticas extrativistas como coleta de castanha, extração de látex, óleos essenciais, cacau silvestre, entre outros.

    Dona Maria das Graças, de 67 anos de idade, que mora no seringal Amapá há mais de 40 anos, é um exemplo dessa realidade. Hoje aposentada, ela destaca a importância do trabalho da mulher na produção de borracha. “Desde que me casei, sempre cortei seringa junto com meu esposo, cuidando de casa e da família”, conta, afastando a crença errônea de que as mulheres da floresta se dedicavam meramente ao lar.

    Por trás das iniciativas de organização e mobilização das mulheres em torno da produção da borracha, há um empreendimento internacional que há cerca de 20 anos incrementa o preço do látex que é extraído das florestas acreanas para se transformar em calçados produzidos no Brasil e comercializados no mundo todo. É a marca de tênis sustentáveis da VEJA (VERT), atualmente em expansão na Europa.

    “A borracha já teve um preço muito baixo, mas hoje, graças a Deus, à Cooperativa e à VEJA, que paga na hora, nossos filhos podem cortar (seringa) e vender por um preço mais justo. As mulheres sempre cortaram seringa, colheram e ajudaram a fazer a borracha. É uma produção que junta toda a família”, destaca dona Maria das Graças, durante uma das oficinas do projeto.

    É importante destacar que a borracha desses seringais é vendida na cooperativa com valor pago à vista de R$ 12,00 e, posteriormente, entregue à empresa VEJA, que produz sapatos ecologicamente corretos a partir da borracha de seringueiras nativas extraída na Amazônia, algodão agroecológico oriundo da agricultura familiar do Nordeste, couro de gado criados em campos nativos do Pampa no Sul do Brasil e garrafas pets recicladas, que são recolhidas do meio ambiente.

    Um dos objetivos dos encontros entre as mulheres das RESEXs e outras áreas é fortalecer a importância do modo de vida extrativista dessas famílias evidenciando, compartilhando e discutindo a valorização da participação da família no processo de produção da borracha, que acontece desde a decisão em cortar a seringa, limpeza das estradas, corte e colheita do látex, produção da borracha e a comercialização nas cooperativas.

    A empresa VEJA vem melhorando o preço da borracha desde 2004. Além do preço pago à vista, as cooperativas e movimentos sociais lutaram por um subsídio federal que hoje paga R$ 3,32 e o subsídio estadual de R$ 2,30. Em alguns municípios ainda há a subvenção municipal, como é o caso de Assis Brasil, que paga R$ 1,40 por quilo de borracha produzida. Atualmente, o contrato da cooperativa Coopaeb com a Veja é de 80 toneladas ao ano, o que pode aumentar a partir de 2023.

    Francisca Bezerra, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia, que também acompanhou as oficinas, destacou a importância da mulher no processo produtivo.

    “Agradeço o convite da Cooperacre e da SOS Amazônia para participar das oficinas voltadas para as mulheres, que têm um papel fundamental na produção e isso ajuda as mulheres a terem conhecimentos dos seus direitos na produção e na hora de receber um benefício que precisam estarem inseridas no sistema produtivo”, afirmou.

    O presidente da Cooperativa Agroextrativista de Assis Brasil, Epitaciolândia e Brasiléia (COOPAEB), José Rodrigues de Araújo, conhecido como ‘De Araújo’, esteve presente nas capacitações e falou da importância da participação das mulheres no processo.

    “A Cooperacre e a Coopaeb vêm participando desse processo de organização da capacitação por saber a importância da participação familiar que envolve o marido, a mulher e os filhos. A cooperativa luta por um preço cada vez mais justo que chegue às famílias extrativistas e, com isso, elas melhoram a renda e ainda ajudam em uma produção sustentável com menos desmatamento. Esse é nosso papel como instituição, buscar sempre um preço mais justo para os produtos extrativistas”, enfatizou.

    Gabriela Antônia, da SOS Amazônia, responsável por executar e mediar as oficinas, relata que já foram realizadas cinco de seis oficinas previstas para serem executadas nos territórios onde a Coopaeb atua. Contudo, o projeto tem como meta ser realizado nas cinco regionais do estado do Acre, onde atuam onze cooperativas locais que entregam borracha para a empresa VEJA/VERT por meio de contratos com a Cooperacre.

    “Em junho de 2022, foram realizadas as duas primeiras oficinas, uma no município de Assis Brasil, na comunidade Divisão, e a segunda no município de Brasiléia, na comunidade Tabatinga, somando a participação de mais de 50 mulheres. E agora foram realizadas mais três oficinas, somando a participação de 70 mulheres”, explica.

    Gabriela pontua que o projeto é pioneiro e de grande relevância para a vida das famílias extrativistas e, sobretudo, para as mulheres pertencentes a essas famílias. Ela acrescenta que as mulheres sofrem com o não reconhecimento de seu trabalho rural e com isso a maioria não consegue obter direitos previdenciários ou conseguem após muitas dificuldades e desafios.

    “Com compartilhamento de informações é possível a transformação e despertar o auto empoderamento das mulheres. O extrativismo é uma prática que envolve toda a família, e a mulher tem uma atuação e papel importantíssimo na manutenção desse modo de vida. Porém, historicamente as mulheres não têm o reconhecimento pelo marido, família e sociedade pelos trabalhos que executam, sendo apontadas como meramente ‘ajudantes’ de algo que fazem ao longo de toda a vida”, finaliza.

    Fonte: https://www.juruaonline.com.br/no-acre-projeto-valoriza-atuacao-de-mulheres-na-producao-da-borracha-que-nao-se-transforma-em-calcados-sustentaveis/

  • Cooperacre é premiada em 1º lugar no Prêmio SomosCoop Melhores do Ano

    Cooperacre é premiada em 1º lugar no Prêmio SomosCoop Melhores do Ano

    Publicado em 12 de dezembro de 2022

    O Sistema OCB divulgou na quarta-feira (7) as coops campeãs da 13ª edição do Prêmio SomosCoop Melhores do Ano. A cerimônia realizada em Brasília e transmitida ao vivo pelo Youtube, contou com a presença de mais de 200 cooperativistas que prestigiaram as iniciativas que inspiram nas sete categorias da premiação: Comunicação e Difusão do Coop; Coop Cidadã; Desenvolvimento Ambiental; Fidelização; Inovação; Intercooperação; e Influenciador Coop.

    Os números da 13ª edição do prêmio bateram vários recordes. Foram 787 projetos submetidos por 431 coops de todas as regiões do país. Destes, 18 foram os escolhidos por duas comissões: técnica e julgadora. Já o Influenciador Coop foi escolhido por meio de votação popular. Além dos troféus, os primeiros colocados de cada categoria receberam bolsas para intercâmbios internacionais.

    A Cooperativa Central De Comercialização Extrativista Do Estado Do Acre Ltda (COOPERACRE) concorreu nas categorias Desenvolvimento Ambiental, Fidelização e Inovação, categoria na qual a coop foi vencedora em 1º lugar.

    Inovação

    O reconhecimento em Inovação é concedido às coops que utilizam soluções inovadoras para promover mudanças na rotina diária das coops, como modernização de produtos e serviços, técnicas e ferramentas de gestão e outras que viabilizem melhores resultados financeiros e ganho de produtividade.

    A Cooperacre (AC) conquistou o primeiro lugar da categoria com o projeto Fortalecendo o Extrativismo e Viabilizando o Desenvolvimento Sustentável Através da Tecnologia. A cooperativa modernizou seu processo de seleção e classificação da castanha-do-Brasil com investimentos em maquinários e tecnologia de ponta para aumentar a quantidade e qualidade do produto, reduzindo riscos de contaminação e alcançando certificações.

    O resultado foi o aumento da produção, que subiu de 45 para 900 toneladas/ano. O impacto foi significativo na vida de mais de 7,4 mil pessoas entre cooperados, colaboradores e familiares. Outro impacto positivo desta automação de processo, além do aumento de escala, foi a reflexão sobre a importância de reduzir o desmatamento da floresta para preservar a fonte de renda.

    “Só podemos agradecer e ressaltar que é uma felicidade muito grande receber esse prêmio e poder divulgar um pouco mais esse trabalho que concentra esforços de muitas pessoas por um longo tempo. É um orgulho estar aqui e comprovar como o cooperativismo nos permite chegar longe. Somos de uma reserva extrativista e, se conseguimos garantir a comercialização dos nossos produtos com preço justo e valor agregado, é porque temos o apoio do cooperativismo”, ressaltou emocionado o presidente da Cooperacre, José Rodrigues de Araújo.

    O prêmio

    A cada dois anos, um seleto grupo de cooperativas recebe do Sistema OCB o título de “Melhores do Ano” – um reconhecimento à criatividade, à visão e aos resultados obtidos por elas ao longo do biênio.

    O Prêmio SomosCoop Melhores do Ano é uma forma de destacar as boas práticas de cooperativas que tenham proporcionado benefícios aos seus cooperados e à comunidade. O coop acreano faz muito, e faz bem.

    Fonte: https://www.somoscooperativismo-ac.coop.br/cooperacre-e-premiada-em-1o-lugar-no-premio-somoscoop-melhores-do-ano/

  • Desmatamento ameaça castanha-do-Brasil, semente nativa da Amazônia

    Desmatamento ameaça castanha-do-Brasil, semente nativa da Amazônia

    *Publicado originalmente na edição 412 de Globo Rural (fevereiro/2020)

    A trabalhadora rural Leide Aquino, de 53 anos, cresceu quebrando castanha. “Aqui a gente aprende a ser quebradeira assim que tem força para segurar o facão”, diz. Nas contas dela, o esforço vale a pena. “Você tem de andar dentro da mata e carregar bastante peso, mas, para nós, a safra da castanha sempre significou um período em que todo mundo tem dinheiro no bolso.”

    Moradora da Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, no Acre, uma área de 970.570 hectares, pioneira no conceito de unidade de conservação de uso sustentável, Leide testemunha o avanço da derrubada dos castanhais no entorno. A criação bovina prospera ao longo dos 187 quilômetros de estradas que ligam Rio Branco a Xapuri, município onde ela vive.

    No lugar da floresta, o que se vê até o horizonte é tudo gado e pasto. Exceto por algumas árvores solitárias aqui e acolá: são as castanheiras, uma das espécies mais imponentes – e também mais vulneráveis – da Amazônia.

    O engenheiro florestal Flúvio Mascarenhas explica a paisagem: “Nenhum fazendeiro da região corta a castanheira porque ela é protegida por lei, mas a supressão da mata ao seu redor fará com que ela morra isolada. O que vemos nesses locais são verdadeiros cemitérios de árvores”.

    50 metros e 500 anos

    O cenário de desmatamento só termina quando esbarra na placa que indica o início da Resex, de onde sai boa parte da castanha consumida pelo mundo.

    “Uma castanheira no seu hábitat natural tem um aspecto totalmente diferente. Ela começa a produzir com oito anos e pode seguir assim por séculos. Mas, quando está ilhada no campo, a castanheira fica inalcançável aos polinizadores, que utilizam os substratos da flora associada como escada”, explica Flúvio, gestor da reserva.

    De nome científico Bertholletia excelsa, a castanheira pode alcançar 50 metros de altura e até 5 de diâmetro. Sustentados por um tronco reto de casca acinzentada, seus galhos ficam no topo, onde frutificam os ouriços, que podem pesar 2 quilos e abrigar de oito a 24 sementes – as tão apreciadas castanhas, ricas em fibras, selênio e vitaminas.

    Com expectativa de vida que supera os 500 anos, as castanheiras figuram na lista de espécies vulneráveis à extinção da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). A iminência do desaparecimento é referendada pelo Ministério do Meio Ambiente.

    Conservação

    O risco à castanha preocupa os extrativistas. “Eu temo que a castanha falte. Em 40 e poucos anos, eu nunca vi ter a baixa que ela teve agora. A gente, aqui na comunidade, já chegou a quebrar 1.000 latas de castanha por safra e hoje não passa de 700. O que eu acho é que o clima mudou, as chuvas estão outras e todas as nossas datas de coleta foram alteradas, não só da castanha”, argumenta Severino da Silva Brito, de 62 anos, que morou a vida toda no território onde desde 1990 fica a Resex.

    Ele conta que, desde que a borracha brasileira entrou em queda livre no mercado internacional, a castanha se tornou a principal fonte de renda na floresta. “A gente tem o jatobá, a copaíba, o açaí, mas isso é uma coisa mínima. Desde que paramos de tirar a seringa, é a castanha que garante nosso sustento”, pontua. “Estamos em alerta, pois são os produtos florestais que nos mantêm aqui e, por outro lado, somos nós que mantemos a floresta em pé”, complementa Leide.

    Embora a reserva sofra com as pressões do agronegócio, ela ainda representa uma barreira, salienta Flúvio. “A Resex está numa posição estratégica do final do arco do desmatamento, que vem desde o Pará e finaliza nela. Junto com o desmatamento, vem toda uma ideia de progresso que está trazendo mudanças culturais para as comunidades tradicionais. A criação de gado é uma delas, pois seduz pelo retorno financeiro imediato”, diz.

    Seu Silva acompanha de perto essas transformações. “Nossos produtos estão perdendo valor. Se não consigo vender as coisas da floresta, eu vou ter de dar um jeito de sobreviver. A pecuária dá muito dinheiro e está entrando na reserva. A gente sabe que não existe multa nem lei que faça uma pessoa não destruir se ela não tem outro recurso, pois ela está lutando para viver. Nós precisamos de apoio para continuar aqui na floresta com nosso trabalho”, diz.

    Embora seja conhecida país afora como castanha-do-pará, o Estado que mais produz é o Acre. No ranking mundial, quem lidera é a Bolívia. No Brasil, o maior volume de castanha beneficiada sai dos galpões da Cooperacre, uma central de cooperativas criada em 2001 que absorve 50% das sementes coletadas pelos extrativistas.

    “Estamos falando de 5 a 8 milhões de quilos de castanha por ano. Porém, esta última safra foi muito pequena, e nós adquirimos apenas 2,5 milhões de quilos de castanha in natura, pagando em média R$ 5,90 o quilo. O produto vem com casca de comunidades localizadas em 14 municípios e sai daqui beneficiado e embalado a vácuo”, calcula Manoel Monteiro, superintendente da entidade.

    Extrativismo

    Filho de seringueiros, Manoel conhece bem a realidade da floresta. “A Cooperacre é resultado da luta dos extrativistas. Antes, toda a produção ficava na mão do atravessador e era ele que dava o preço. Hoje, a Cooperacre é uma garantia de compra do produto. Nós buscamos a castanha nas comunidades e ela é vendida com certificação orgânica para todo o Brasil e também para países europeus, árabes, Estados Unidos e Rússia.”

    Na avaliação do engenheiro florestal Flúvio Mascarenhas, valorizar o extrativista é o caminho para garantir o futuro. “Estamos falando da maior faixa de floresta tropical do mundo. É preciso considerar os serviços ambientais que essas populações prestam ao cuidar da Amazônia. Isso tem reflexo não apenas para quem vive no meio rural, mas também para quem mora na cidade. É a Amazônia que guia as chuvas pelo mapa. Isso sem falar na polinização e na regulação do clima, entre tantos outros benefícios que ela gera”, defende.

    Além disso, pontua Flúvio, os produtos da floresta têm grande relevância econômica. Em 2018, a castanha foi o principal produto exportado pelo Acre, de acordo com o Fórum Permanente de Desenvolvimento do Estado.

    “Não foi o gado, nem a madeira, nem a soja. Foi o fruto do extrativismo que trouxe dinheiro para cá, e isso comprova que nossa vocação para o desenvolvimento está ligada à proteção da biodiversidade”, diz ele.

    SEMENTES DO AMANHÃ
    Esta reportagem faz parte do projeto Sementes do Amanhã, que resgata histórias de alimentos brasileiros ameaçados de extinção. O trabalho é uma parceria da Globo Rural com a Okna Produções e a Terramar Filmes

    Fonte: https://globorural.globo.com/Noticias/Agricultura/noticia/2020/04/desmatamento-ameaca-castanha-do-brasil-semente-nativa-da-amazonia.html

  • Pandemia do coronavírus afeta mercado da castanha-do-brasil

    Pandemia do coronavírus afeta mercado da castanha-do-brasil

    Publicado em 04/06/20 

    Com as medidas de isolamento físico, impostas pela pandemia do coronavírus, cooperativas agroextrativistas reduziram suas atividades, com impactos na comercialização da castanha-do-brasil (também conhecida como castanha-do-pará), principal produto extrativista do Acre. O preço da lata (unidade de medida da castanha), que já apresentava sinais de queda no mercado local, reduziu para menos da metade do valor praticado em 2019, nessa mesma época, e muitos extrativistas não conseguiram vender toda a produção coletada.

    Segundo estimativas da Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre (Cooperacre), era esperado um valor de mercado da castanha em 2020 inferior ao da safra do ano passado, em razão dos estoques existentes nas cooperativas e usinas de beneficiamento, o que fez diminuir a procura pelo produto. Com a pandemia do coronavírus, os impactos foram maiores. 

    Rozinei Brito, morador da Reserva Extrativista Chico Mendes, município de Epitaciolândia (AC), reconhece os impactos da pandemia. Para garantir a saída do produto coletado, ele chegou a comercializar a lata de castanha a 14 reais. “Esse preço não compensa nosso trabalho. É um dia pra juntar os ouriços, outro dia pra quebrar e outro pra recolher. Por isso, muitos extrativistas decidiram abandonar a atividade”, conclui.

    O comerciante Jonas do Nascimento é vendedor de castanha no município de Brasileia (AC) e relembra que o preço começou a declinar logo no início da pandemia. “A gente compra na expectativa de comercializar para o mercado internacional. No ano passado, cheguei a vender a lata de castanha a 64 reais. Agora o preço está muito baixo. Se tivesse procura, a gente comprava do extrativista por um preço melhor”, esclarece. 

    Desafios do mercado

    Para se ter ideia dos desafios impostos ao mercado da castanha pela pandemia, a Cooperacre, principal indústria de beneficiamento de castanha no Acre, reduziu em 60% a capacidade de compra de seus associados. Com 220 funcionários, além da castanha, atua também com beneficiamento de polpas de fruta e látex de seringueira.

    “A Cooperacre comprava, em média, de quatro a cinco milhões de quilos de castanha in natura. Em 2020, compramos 200 mil latas, o que representa dois milhões e duzentos mil quilos, menos da metade do volume adquirido em anos anteriores”, afirma Manoel Monteiro, presidente da empresa. 

    Diante do cenário de incertezas, de acordo com Monteiro, a cooperativa tem comprado somente a castanha necessária para atender contratos firmados há mais de cinco anos. “Compramos mediante a demanda. Estamos com dificuldades para vender e buscar um preço melhor para a castanha. Não estocamos o produto porque não sabemos se terá saída”, explica. 

    Infraestrutura

    Em meio à crise do setor, uma importante lição: o planejamento da safra e a adoção de boas práticas no armazenamento da castanha podem assegurar a venda e evitar perdas econômicas na atividade. Se por um lado a pandemia do coronavírus impactou as relações de mercado, por outro evidencia a necessidade de planejar a comercialização do produto e organizar os estoques de maneira adequada, para assegurar a venda em médio ou longo prazo. Nesse sentido, a estruturação da cadeia extrativista é tão importante quanto a adoção de boas práticas.

    No Seringal Porvir, na Reserva Extrativista Chico Mendes, 40 famílias são beneficiadas pelo projeto Castanhal, executado pela Associação Wilson Pinheiro, em parceria com a Embrapa Acre e o Projeto Bem Diverso. Em desenvolvimento desde março de 2018, o projeto investe em ações para melhoria da infraestrutura de coleta da castanha, como a construção de armazéns para garantir procedimentos adequados de estocagem da produção, e da logística de transporte da castanha coletada.

    “O principal objetivo do projeto é contribuir com a estruturação da atividade. A comunidade Porvir é referência em manejo de castanha, trabalho que vem sendo apoiado por diversos estudos da Embrapa, mas os extrativistas não conseguiam fazer o manejo de boas práticas, conforme foram capacitados, porque não contavam com armazém individual, nem com meios para transportar a produção e buscar um mercado diferenciado”, explica Lúcia Wadt, pesquisadora da Embrapa.

    A Associação Wilson Pinheiro administra dois armazéns comunitários para estocar a castanha coletada, mas era preciso que cada extrativista tivesse seu próprio armazém para fazer a secagem do produto de forma adequada e evitar contaminação por fungos, decorrente da alta umidade da região. O projeto Castanhal construirá 40 armazéns, um para cada família, com capacidade individual para estocar 540 sacas de castanha. Desse total, 23 já foram entregues.

    O modelo utilizado para a construção dos armazéns foi desenvolvido por pesquisadores da Embrapa. A estrutura de madeira é revestida com tábuas e possui tela na parte superior, para facilitar a circulação de ar e a secagem da castanha com casca, que deve ser revolvida com regularidade até reduzir os níveis de umidade. Segundo pesquisas sobre as Boas Práticas no Manejo da castanha, em condições adequadas, o produto pode permanecer armazenado por vários meses ou até a próxima safra, o que permite ao extrativista aguardar para obter melhores preços no mercado. 

    Coletivo da Castanha 

    A formação de uma rede de comunicação e compartilhamento de informações referentes à pesquisa, produção e comercialização da castanha tem ajudado extrativistas do Acre e outros estados a encontrar alternativas para lidar com os desafios da cadeia produtiva. Criado pelo Projeto Bem Diverso, em 2017, o Coletivo da Castanha reúne lideranças agroextrativistas, indígenas, quilombolas e agricultores familiares, além de assessores técnicos e pesquisadores de diversas organizações que trabalham com a produção da castanha. A troca de informações entre os diversos atores é facilitada pelo uso do WhatsApp.

    A pesquisadora Lúcia Wadt destaca, como diferencial do grupo, a divulgação de boletins com os preços de compra e venda da castanha. “Até então, boletins como esses não chegavam para as comunidades extrativistas. Essa interação entre os participantes permite, por exemplo, que extrativistas da Reserva Chico Mendes conheçam a realidade e os desafios de outros estados produtores de castanha e percebam que um problema que parece local é comum a outros lugares”, avalia. 

    Participam do Coletivo da Castanha cerca de 50 pessoas representantes de associações, cooperativas e organizações sociais de sete estados da Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Rondônia, Pará e Roraima), além de representantes do Bem Diverso e pesquisadores da Embrapa. A dinâmica do grupo é baseada no compartilhamento de mensagens de texto e áudio, a partir das quais são gerados boletins informativos sobre o mercado da castanha. Entre os temas abordados estão o preço de venda, financiamento da produção, capital de giro e estoque. 

    As 34 organizações de apoio à produção e estruturação da cadeia extrativista, representadas no Coletivo da Castanha, possibilitam o alcance de aproximadamente quatro mil famílias produtoras, o que revela o potencial de abrangência das informações compartilhadas no grupo, de acordo com Relatório de Avaliação e Monitoramento elaborado pelo Projeto Bem Diverso.

    Castanhal e Bem Diverso

    Executado com recursos do Fundo Amazônia, geridos pela Fundação Banco do Brasil (FBB), o Projeto Castanhal foi aprovado em Edital Público do Ecoforte, destinado a associações de base extrativista vinculadas a unidades de conservação federais. A gestão da iniciativa, pela Associação dos Pequenos Produtores Rurais e Extrativistas Wilson Pinheiro, que representa cerca de 50 famílias de extrativistas e pequenos produtores rurais, é compartilhada com a Embrapa, por meio do projeto Bem Diverso.

    Fruto da parceria entre a Embrapa e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e desenvolvido com recursos do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF), o Bem Diverso investe em ações para a conservação da biodiversidade e manejo sustentável dos recursos naturais em paisagens florestais e sistemas agroflorestais em Territórios da Cidadania localizados em três biomas brasileiros (Amazônia, Cerrado e Caatinga). O objetivo da iniciativa é gerar renda e assegurar qualidade de vida para as comunidades tradicionais e agricultores familiares.

    Fonte: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/53129176/pandemia-do-coronavirus-afeta-mercado-da-castanha-do-brasil

  • Dia de Campo na TV – Sistemas agroflorestais na reserva extrativista Chico Mendes

    Dia de Campo na TV – Sistemas agroflorestais na reserva extrativista Chico Mendes

    Publicado em 16/07/19

    Os sistemas agroflorestais combinam o plantio de espécies florestais com culturas agrícolas. Uma experiência realizada pela Embrapa Acre em parceria com o agricultor familiar João Evangelista, no seringal Porvir, localizado na Reserva Extrativista Chico Mendes, em Epitaciolândia (AC), mostra que essa alternativa produtiva é economicamente viável e proporciona ganhos ambientais.
    Instalado em dois hectares, o arranjo concilia o plantio de seringueiras, açaizeiros, castanheiras, bananeiras e culturas anuais como milho e feijão. Os cultivos consorciados registraram boa produtividade e além da renda com a produção de milho e feijão, o agricultor comercializa a produção de banana de cerca de mil cachos por ano.  
    Hoje, a propriedade do seu João é modelo na Reserva Extrativista Chico Mendes e tem comprovado a viabilidade do sistema. Outro resultado importante é a geração de informações técnicas sobre a implantação e manejo das espécies, que contribuem para ampliar o uso desses sistemas.
    O WWF/Brasil e a Cooperativa Central de Comercialização Extrativista (Cooperacre) têm colaborado para a implantação de novos SAFs e avaliação técnica dos que já foram implantados. A parceria tem sido fundamental para divulgar a experiência entre os agricultores da região e estimular a adoção dessa alternativa de produção. O agricultor Severino da Silva Brito, também morador da Reserva Chico Mendes, participou de uma capacitação da Embrapa e conheceu o sistema agroflorestal do seu João.
    A disseminação dos sistemas agroflorestaias e a continuidade dessas iniciativas contam com o apoio do projeto Bem Diverso, fruto de uma parceria entre a Embrapa e o Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento (PNUD), financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), e tem contribuído para a disseminação do uso de SAFs na Resex.

    Liderado pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília/DF), o programa desenvolve ações nos diferentes biomas do país e tem como principal objetivo conservar a biodiversidade brasileira e gerar renda para comunidades tradicionais e agricultores familiares.

    https://www.youtube.com/watch?v=DtHj7JDJUlQ

    Fonte: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/44950911/dia-de-campo-na-tv–sistemas-agroflorestais-na-reserva-extrativista-chico-mendes